O abandono
de Ceará-Mirim
O advogado José Maria Gels, que representa a
intervenção judicial da Usina São Francisco (atual Ecoenergia), bem que tentou
convencer esta repórter de que a crise no setor açucareiro é geral. "Oito
usinas de Pernambuco não moeram cana nesta safra", disse sexta-feira (7)
por telefone a mim, enquanto apurava a matéria que o NOVO JORNAL publicou hoje
sobre a economia de Ceará-Mirim, à beira da falência.
Acompanho o caso como repórter há mais de dois
anos, desde que foi decretada a intervenção por conta do impasse existente
entre o ex-dono, o ex-senador Geraldo Melo, e o atual, Manoel Dias Branco Neto.
Não querendo entrar nos detalhes dessa briga, prefiro comentar somente o
declínio que a usina vem sofrendo desde então.
Luz cortada, salários atrasados, inadimplência com
fornecedores ao longo dos últimos dois anos, e, agora, uma paralisação que tem
todos os sinais de ser definitiva, culminaram com a quebra da economia de
Ceará-Mirim, historicamente dependente da moenda de cana-de-açúcar da usina. Em
tempos áureos, mais de duas mil pessoas chegaram a trabalhar na plantação em
época de safra.
Este ano, com a seca mais rigorosa dos últimos 40
anos, a cana não cresceu conforme o esperado e a empresa não dispunha de
recursos para investir no apontamento do parque industrial e moer a cana.
Vendeu tudo para a Vale Verde, de Baía Formosa. Os salários dos funcionários
estão atrasados há seis meses e o cenário é de total abandono. Nem o telefone
fixo, para o qual a reportagem ligou incansavelmente, pode ser atendido porque
não há secretária trabalhando.
Não há como negar que a seca prejudicou o país
inteiro. Mas o interventor Valdécio Vasconcelos também não nega não possuir o
mínimo de intimidade com o negócio da cana. "Fui colocado aqui por ser
alguém de confiança. Mas não entendo de cana-de-açúcar", admitiu ao blog.
Os trabalhadores, representados pelo sindicato, acreditam que a intervenção é a
responsável pelo fracasso do negócio.
Enquanto o ex e o atual dono brigam na Justiça pelo
pagamento das dívidas da usina, Ceará-Mirim morre à míngua. A inadimplência do
IPTU chegou a 90%, o faturamento do comércio caiu pela metade e, quem não se
aventurou a tentar emprego nas obras do "Minha Casa, Minha Vida",
está passando fome. Uma situação pela qual o poder público pode fazer muito
pouco.
Fonte: Novo Jornal